13/09/2014

CHAMA-SE SONHO A ESTAÇÃO - poema visual

CHAMA-SE SONHO A ESTAÇÃO

Poema de JC Canoa, datiloscrito, 1985 [18 anos]



Chama-se SONHO a nossa estação de saída...
O comboio risonho somos nós, pois então!
Embarquemos e partamos em viagem,
Ó aventurosa e alegre miudagem!
Pouca terra! Pouca terra! Uh! Uh!...


A pouco e pouco, a pouco e pouco
Ganha velocidade na sua marcha...
Um longo silvo se solta e arrasta
Na sua rodagem metálica de louco:
Uh!... Uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuh!


Rodando em tão rápido movimento
Já avançou em velocidade e encantamento:
Devorando vales, montanhas, penedos
Pinhais, vinhais, trigais e arvoredos...
Parece até dizer: — Pouca terra!


No comboio livre e aventureiro
Às janelas abertas vai debruçada,
Toda curiosa, a criançada.
Tantas caras alegres a viajar
querendo tudo admirar!...


E avistaram um fresco arco-íris de sabores,
Flores bailando em tutus multicolores
E bicharada, terrestre e aérea, muito engraçada...
Um pôr-do-sol, todo ouro fundido,
No leito do rio mirando o rosto refletido.

Avistaram casas construídas em chocolate,
Árvores que eram enormes chupa-chupas
E mesmo colossais castelos erguidos no ar
Ou um príncipe sensível preso numa torre
Que um príncipe valente foi salvar.


Pouca terra! Pouca terra! Uh! Uh!...
Passam histórias, passam horizontes...
Mas o apetite está a embarcar...
E a locomotiva devorando montes
Está a dizer: — Tenho fome! Tenho fome!


Já se avista, ao fim do percurso, o destino...
A pouco e pouco, custosamente, devagar
O comboio abranda a sua cadência...
O freio, manobrado, acaba por o parar.
E os passageiros apeiam-se, felizes e com tino.



José Carlos Canoa, 20.12.1985
Poema visual, com o texto arrumado convencionalmente e revisto.

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