15/09/2014

O PRÍNCIPE E O SINO - conto - de JC Canoa


 O PRÍNCIPE E O SINO

História e desenho de JCCanoa (15 anos)


Tudo se passou há muito, muito tempo no jardim de um palácio real.


As flores pareciam bailar suavemente, mostrando as suas garridas cores. Os pássaros cantarolavam alegremente nas altas e verdosas árvores. E tudo era acompanhado de uma harmonia e odor maravilhoso que nos inspira e dá asas de liberdade.

Por entre todas estas maravilhas naturais, deslizava um pequeno príncipe vestido com bonitas vestes e com os cabelos em anéis quase tão brilhantes como a bola que segurava nas mãos.

Não penses que era uma bola normal, igual à tua e a tantas outras que existem. Não. Era uma bola de oiro. É claro que não saltava, mas o principezinho não se importava com isso.

Todos os dias brincava com ela, segurando-a bem firme e zut!... Lá ia a bola pelo ar, caindo num sítio onde não fazia estragos. Corria então a apanhá-la e tornava a lançá-la para tornar a fazer o mesmo.

Foi assim que um dia se encontrou numa zona mais afastada do jardim do palácio, onde tudo crescia em mais liberdade e sem cuidados. A relva estava muito alta e as flores misturadas com as ervas; mas não era por causa disso que eram mais feias, antes pelo contrário: eram viçosas e desabrochavam com uma rara beleza e cor.

O príncipe ficou encantado ao ver­se num novo mundo desconhecido e ia embrenhar-se por ali a dentro, quando soou o gongo para o jantar.

Sacudiu o fato e correu para o palácio, prometendo a si próprio que ali voltaria no dia seguinte. Sabia-se lá o que poderia encontrar!...

Assim o pensou e assim o fez. Logo que pôde vir brincar para o jardim, observou onde estavam os jardineiros, fingindo brincar normalmente com a sua bola e, na primeira oportunidade, esgueirou-se.

— Já posso brincar
Sem me incomodar
Sem ser ouvido
Ou repreendido.

Cantou ele alegremente. Como ali tudo era tão livre, tão natural, tão belo! E o principezinho olhava tudo em redor.

— Oh! – exclamou ele surpreendido. – Sempre pensei que esta torre estivesse fora das muralhas do palácio.

Era verdade. A torre que o principezinho encontrou era muito alta, mas as árvores do jardim também o eram, permitindo apenas que o andar superior da torre se avistasse das janelas do palácio e, como as árvores também eram muitas, encobriam as muralhas.

— Viva! – gritou o príncipe radiante. – Nunca ninguém me disse nada sobre esta torre e... oh que bom! Tem um sino! Vou tocá-lo!

Entrou para dentro da torre que não tinha porta e subiu os degraus dois a dois; mas que desilusão!...

— Não tem corda! Assim não posso tocá-lo! – disse desiludido.

Olhou em volta a ver se via vestígios de alguma corda, mas nada... e ficou tão dececionado que, sem pensar, perguntou ao sino:

— Então, Senhor Sino, que é feito da sua corda?

Mas, supresa das surpresas, o sino respondeu:

— Ora, que corda? Nunca usei nem preciso de uma corda.

— Mas o Senhor fala! – exclamou o príncipe muito admirado e descobrindo que o sino tinha olhos e nariz, além da boca.

— Pois claro que sim! - retorquiu-lhe o sino. – Só que nunca ninguém me havia perguntado nada a não seres tu agora.

— E como é isso de não precisar de corda? Todos os sinos, como o Senhor, precisam que lhe puxem uma corda senão não tocam.

— Pois eu não. Sou especial!

— Especial?... – proferiu o principezinho em tom de dúvida, pois não compreendia.

— É claro! Sou mágico! Um sino mágico!

— Não sei se acredito. Não! Não! Não acredito a não ser que... toque um pouco para eu ouvir.

O sino ficou triste e, soltando três grandes e brilhantes lágrimas, que só os sinos são capazes de chorar, disse:

— Não posso...

— Bem me queria parecer – disse o príncipe sem troçar do sino pois era muito amigo de tudo e de todos e, além disso, o facto de um sino ter olhos, nariz e boca já era muito. No entanto, como estava a gostar de conversar com o sino, continuou:

— E porquê?

— Perdi o meu badalo – respondeu o sino começando a soluçar.

O pequeno príncipe olhou para o interior do sino. — Lá isso era verdade! Faltava-lhe a bolinha que todos os sinos têm.

— Ora, não chore, Senhor Sino! Eu hei de encontrar uma solução. Eu... eu tenho uma bola que serviria muito bem de badalo, uma bola de oiro maciço.

O sino parou de chorar e abriu os enormes olhos.

— Mostra! Mostra! – pediu logo.

O principezinho estendeu os braços e a bola de oiro amarelo luziu nas suas mãos.

— Não te importas de ma dar? De verdade que ma dás? – perguntou o sino numa torrente de palavras, olhando-o com os olhos radiantes, que, a princípio, pareciam ter saído das órbitas.

— Claro! – foi a resposta do príncipe. – Só não sei como prendê-la ao ferro do antigo badalo.

— Lembra-te que sou mágico. Encosta a tua bola a esse ferro e ela ficará presa.

O príncipe assim fez.

— Que bom! Ficou mesmo! – exclamou ele, sentido ter encontrado um novo e fantástico amigo.

— Fico-te eternamente agradecido. – disse o sino. – E, como prova do meu reconhecimento, tocarei sempre que quiseres.

E começou a tocar para grande surpresa do príncipe que nem queria acreditar.

O sino tocava muito bem, mas também muito alto, ouvindo-se em todo o palácio real.

O rei, a rainha, as aias, os criados vieram todos verificar o ocorrido, maravilhados. Há tanto tempo que o sino deixara de tocar!

O rei então mandou os jardineiros cuidarem daquela parte do jardim e, sempre que o principezinho podia ir para o campanário, ele ia conversar com o sino e ouvi-lo tocar.

FIM




Conto publicado na  revista Girassol, n.º 45, abril 1983, pp. 12 e 10.

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