01/06/2021

No Dia das Crianças, excerto de um conto sobre a amizade de três seres

Ter um amigo é um tesouro


O sol acabara de se pôr... e os beirais dos telhados ficaram mais sombrios. Os pássaros recolheram-se aos seus ninhos. A água dos lagos e dos rios aguardava pela lua para voltar a brilhar. As plantas dos campos e dos jardins fecharam-se em concha, sonolentas. E o os bichanos aproximaram-se do calor de outros bichos e dos humanos, com as lareiras ainda acesas.








— Vejo o pôr do sol. Pipiu! – chilreou o pardal-do-telhado. – Os arvoredos, os montes e as margens dos rios vão perdendo a nitidez das suas formas e o seu volume. Pipiu! Os seres vão ficando pardos e indistintos. Pipiu! Todavia, nas árvores folhosas, como num hotel de muitos pisos e quartos, os pássaros chilreiam em grupo. A noite dá-nos abrigo. Pipiu!



— Ouço o cantar das crianças. Miau! – miou o bichano. – A algazarra das suas

brincadeiras. Alegres nos tempos livres, sem escola ou trabalhos de casa. Ronrono e gosto dos seus mimos, quando me alisam o pelo e me dão muita atenção. Miau!





— Sinto a frescura das águas. Glup! – roncou o peixe-dourado. – São mais frescas e escuras ao entardecer. Glup! Parecem iluminadas apenas pela luz de velas. Glup! Em vez de banais e claras, são misteriosas e veladas. Como a vida por viver.



— Sentimos com o coração, por dentro. Miau! Pipiu! Glup! – disseram os três, irmanados em laços de afeto – Sentimos o calor essencial da amizade. Miau! Nunca mais estaremos sós. Pipiu! Escutamo-nos uns aos outros, compreendemo-nos e apoiamo-nos. Glup! Ter um amigo é um tesouro. É como um dia de sol!
Miau! Pipiu! Glup!

(inédito)


25/08/2018

a L. A.

INSTÂNCIAS INCOMPLETAS


Inicialmente, como seu mensageiro,
levei e encaminhei referências, sinais
de Régio, de Sena, de Simões…
– Breve lhe conheci a própria alma
dos poemas, das páginas de vida
diárias, ofertadas em divinal e
íntima confissão de poeta.

Hermes volátil, mas vero vizinho,
convidado sou das suas horas
inspiradoras, ilustradas, generosas…
– Ó querido amigo, como é
desmedida a minha dívida para contigo:
preciosas são as lembranças avulsas
inscritas nos teus textos e ensinamentos!

Em cada referência falada, em tal inibido gesto
seriamente antegozo as ínfimas sugestões
literárias, de memórias, desejos, vidas, luz…
– Quão enigmático é o percurso humano
ao registar acasos no livro do Destino:
não há fim nem sequer princípio,
os nossos instantes são eternas repetições.

JC

20-II-2014



No restaurante Cavalo Bravo, em Massamá, 2015.


01/05/2016

E TERNAS SÃO AS MÃES












"Nossa Senhora e o menino Jesus Cristo"
por Cláudia Leite






Mãe, vela por mim,
guia o filho que viste
gerado e criado.

Não quero um poema triste
nem um dia assim
– vão e frustrado.

Que seja uma jornada materna
coberta do teu sorriso jovial,
e com bálsamo de açucena.

Mãe, que a nossa poesia
seja roupa branca no estendal
ao sol, ao vento – sem mal!

E assim nasça o sol cada dia
dentro de nós, sempre,
como te trago em mim, eternamente.


JCCanoa



25/04/2016

Um dia na vida do Dinossauro Trolaró (esboço de história)


Hoje o Trolaró acordou cheio de energia e alegre.

Há festa na sua terra: a Expo Lourinhã. É uma exposição que se realiza todos os anos, no centro da vila, e onde todos os criadores anunciam e expõem os seus produtos.

— Finalmente chegou a festa! Quero visitar toda a exposição, sobretudo a área dos doces. – disse lambendo os lábios.

O jovem dinossauro aprontou-se. Colocou um laço no pescoço longo, uns óculos de sol na ponta do nariz e algumas moedas do mealheiro na carteira do bolso.

Pelo caminho encontrou o Senhor Tiranosauro no talho e a Dona Sauropoda com a cesta cheia de vegetais.

— Bom dia! Bom dia! Então, não vão à festa?

— Bom dia, Trolaró! Claro que sim. – respondeu a Dona Sauropoda – Mas mais logo. Agora ainda há muita tarefa a cumprir.

Quando o Dinossauro Trolaró chegou ao local já havia muita frenesim. Cheirava a farturas com açúcar e canela e ouvia-se música divertida.

Começou a sua visita pelo pavilhão onde estavam muitas barraquinhas de artesanato. Reparou nos bonecos feitos à mão, de pano ou outros materiais, nos adornos... e parou para saborear um pastel de abóbora.

— Tanta coisa boa! – exclamou. E continuou a visita.

(continua)





24/04/2016

LER a sabedoria dos avós, poema infanto-juvenil

Avós, imagem (pormenor) 
de Grandparents.com, no Facebook


LER

Fui à biblioteca
requisitar
dois livros
e trouxe
um casal ancião.

Estavam sentados
bem estimados
e conservados
e aguardavam
o meu interesse.

Guardavam em si
toda a sabedoria
de uma vida
mais a experiência
de várias gerações.

E estavam ali
à mão de colher:
apenas aguardavam
que eu, interessado,
os começasse a ler.



José Carlos Canoa

© Os 31 poemas do mês do Martim e da Inês (inédito)

09/02/2016

CARNAVAL

Ilustração de Tomás Leal da Câmara (1876-1948)
Capa da Ilustração Portuguesa, n.º 781 (5.02.1921).



Quando fevereiro chega
há festa – o Entrudo!

Hoje fantasio-me de Pirata,
Corsário dos sete mares...
Depois serei Palhaço,
de circo ou doutros lugares...
Múltiplas personagens
que guardo dentro
de mim, sortudo,
assim, como me sinto...

Pintado ou mascarado
a minha alegria
é transparente:
celebrarei  a época
dançando, brincando
e rindo
em grande folia...

Quando fevereiro chega
festejo o Carnaval!



30/12/2015

VOTOS


Massamá, 1.º de janeiro

Meu caro Leitor,

Desejo-te
um maravilhoso novo ano:
harmonioso
meritório
amado.

Que os teus dias sejam tranquilos!
Que estejas de boa saúde!
Que o trabalho te proporcione abundância!
Que os teus sonhos se concretizem!

E a tua vida seja ainda abençoada
de Amor, Poesia e Beleza!

É em ti que ele nasce novo
Renovado, com esperança.

Cordialmente

JCCanoa